Os policiais dificilmente são ouvidos, seja porque geralmente não falam, por proibições legais, seja porque a estrutura hierárquica das corporações fornecem apenas às instâncias superiores o papel de retratar, ao seu modo, a realidade vigente. O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, acaba de contribuir para a inversão desta tendência, numa pesquisa intitulada “Unidades de Polícia Pacificadora: o que pensam os policiais?”, uma avaliação das condições de trabalho e expectativas dos policiais cariocas que trabalham nas badaladas UPP’s.

Além de analisar o perfil dos policiais, a pesquisa avaliou a formação profissional, as atribuições e atividades dos policiais nas UPP’s, a percepção sobre a receptividade dos moradores, as condições de segurança, dos equipamentos e das condições de trabalho. Por fim, o estudo observou a satisfação e sugestões dos policiais lotados nas Unidades de Polícia Pacificadora.

Alguns dados apontam para a necessidade de reformulação de políticas, como o fato de que 70% dos policiais militares entrevistados dizem preferir estar em outras unidades policiais que não as UPP’s, trabalhando em batalhões “tradicionais”.

Este e outros resultados não surpreendem quando se sabe que os policiais empregados nas UPP’s não desfrutam das melhores condições de trabalho, e culturalmente são segregados da tradição policial, que tem como símbolo as incursões, as armas de guerra, a “caveira”, o uniforme camuflado. Com a exaltação midiática e popular do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, como se a regra do policiamento fosse ou devesse ser esta modalidade de unidade, é natural que policiais empregados numa filosofia pouco agressiva e reativa se sintam desprestigiados.

Outros elementos que indicam este impasse são observados na pesquisa, como a o fato de que “quase todos os policiais (94%) acham necessário portar fuzil no dia-a-dia da UPP”, não obstante 99,7% admitir que os homicídios são ocorrências pouco frequentes ou inexistentes nas áreas de UPP, bem como o porte ilegal de armas, que são pouco frequentes ou inexistentes para 98,9% dos policiais.

Como está disposto na introdução da pesquisa:

O que se destaca, finalmente, dessa primeira etapa do levantamento, é a importância de que a formação dos policiais valorize os princípios do policiamento de proximidade, enfatizando os elementos capazes de reforçar a identificação dos agentes com o projeto, de ressaltar a novidade do modelo e a importância do trabalho realizado por cada um. Embora, até o momento, as UPPs estejam colhendo muito mais sucessos do que fracassos, há diversos desafios a serem enfrentados para que elas se tornem efetivamente sustentáveis. Um deles é fazer com que os policiais de ponta sintam-se também beneficiários do projeto e responsáveis diretos pela mudança das relações entre população e polícia.

Ler o resultado da pesquisa é fundamental para entender as contradições e sucessos vigentes no projeto das UPP’s, que acabam por trazer à tona necessidades de reforma na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que é uma espécie de laboratório para a realidade das diversas corporações policiais brasileiras. Clique aqui e baixe a pesquisa do CESeC completa.