O DIA: Como fazer para convencer o PT a não lançar candidatura própria no Rio se o PMDB decidiu fazer o mesmo no Pará, na Bahia e em Minas Gerais, contrariando os petistas?
Essa é uma lógica boba e primária de se fazer política. O PMDB tem hoje o maior número de deputados federais, governadores, senadores e prefeitos do Brasil. O PT do Rio tem que achar que o governo Sérgio Cabral avançou e que foi ao encontro do que o partido esperava para a população. O PT hoje está no governo. Ele se sente bem com isso? Essa é a conversa madura, por mérito.
Mas o partido teria mais espaço em um segundo mandato do senhor (hoje o PT está nas secretarias de Meio Ambiente e Ação Social)?
Esse não é um privilégio do PT. O PMDB que me apoia também reclama comigo. Claro, em 2006, o PT entrou na aliança no segundo turno. Se desta vez isso vai ser construído a partir do primeiro turno, é uma outra lógica. É natural que o PT possa ter maior presença porque vai formular comigo o programa dos próximos quatro anos. Eles nunca estabeleceram comigo uma relação fisiológica, foi sempre baseada em programa.
O apoio do PMDB para a disputa ao Planalto com a ministra Dilma Rousseff será prejudicado caso o PT lance candidatura no Rio?
Não falo sobre esta hipótese. O PT-RJ não teve ministro no primeiro mandato de Lula e hoje tem dois depois que o Sérgio Cabral assumiu o governo do estado (os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da Igualdade Social, Edson Santos). O presidente Lula pensa que a dupla Cabral-Pezão está fazendo bem ao Rio. Vamos apoiar a companheira Dilma Rousseff e o PT vai nos apoiar aqui, não tenho dúvida disso.
Que tipo de candidato o senhor vai apresentar para o eleitor no ano que vem?
Vamos continuar no mesmo trilho. Nenhum lugar do mundo tem um calendário que nós conquistamos para o Rio: 2011, Jogos Militares; 2013, Copa das Confederações; 2014, Copa do Mundo; e 2016, Olimpíadas. Conseguimos estabelecer uma relação entre os três níveis de poder que jamais se estabeleceu. Faremos muitos concursos públicos na Educação, na Segurança, na área da Fazenda e para gestor público. O servidor vai ganhar, em 2010, o melhor calendário de pagamentos dos últimos 20 anos. Em fevereiro, todas as salas terão ar-condicionado e o professor terá um laptop na mão. Incorporamos o Nova Escola. Na Saúde, Sérgio Côrtes é o maior gestor do Brasil. Antes do Natal, vamos inaugurar em São Bernardo do Campo a primeira Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) fora do estado. As pensionistas voltaram a receber. O último ano de Rosinha pagou R$ 24 milhões em precatórios. Vamos pagar, este ano, quase R$ 170 milhões.
Na semana passada, o ministro Tarso Genro anunciou a proposta de criar a Bolsa Olímpica (gratificação que elevará o piso salarial de bombeiros e policiais civis e militares para R$ 3,2 mil). Como estão as negociações para colocar a ideia em prática?
O projeto pode sair por medida provisória ou projeto de lei. Achamos melhor a primeira opção. Até 2016, isso seria incorporado ao salário. Neste primeiro momento, o benefício não irá para o servidor inativo. Mas é claro que quando começar a incorporar você terá que contemplá-lo. Quando o helicóptero foi derrubado, fizemos proposta ao governo federal de R$ 1,5 mil de gratificação por mês para todos os policiais civis e militares.
Até coronel e delegado?
Sim. Todos.
Corpo de Bombeiros não?
Só policial civil e militar.
Então, a proposta do estado era diferente da feita pelo governo federal (que não engloba todo o efetivo das polícias). E no projeto de Tarso Genro, os bombeiros serão contemplados.
Ah é? Que ótimo. O governo federal nos ajuda como nunca. Acabamos de pegar um empréstimo no BNDES para a construção de cadeias públicas e conclusão do Programa Delegacia Legal. Também pegamos dinheiro para a Cidade da Polícia, que será no prédio da Souza Cruz, no Jacarezinho.
Mas muitos municípios do interior rejeitam a ideia de ter uma casa de custódia.
Isso já esta bem acordado. Os prefeitos acabam convencidos por uma questão humanista. Basta fazer em uma área distante e bem instalada. É covardia um preso do interior estar aqui no Rio, o cara fica longe da família. Vamos terminar duas casas de custódia em Bangu, uma na Região dos Lagos, entre Araruama e Saquarema, duas em São Gonçalo, uma em Magé, uma entre Angra e Mangaratiba e uma em Resende. Nas décadas de 80 e 90, a segurança pública era uma coisa para a qual a esquerda não dava muita bola. Hoje, implantamos uma nova modalidade que é a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que é a presença permanente do estado.
E vai ter no Complexo do Alemão, Rocinha e Manguinhos (comunidades que hoje recebem obras do Programa de Aceleração do Crescimento mas não têm UPP)?
Vamos chegar lá. O problema é que esta estratégia compatibiliza a formação de novos homens. Agora temos 300 que estão se formando no dia 18 de dezembro para atuar no Tabajaras e Cabritos.
Antes do Réveillon?
Antes do Natal. A previsão era formar 1.400 homens até abril de 2010 e, só então, começar o novo curso. Até julho, formaríamos os que entram agora em janeiro. São 1.400 mais 1.300, quase 3 mil homens formados quase que exclusivamente para as UPPs. De março em diante não para mais e não tem calendário eleitoral que comprometa as ações.
Em quais comunidades?
Não decido isso. Sou apenas consultado. O governador não é palpiteiro. Tem três cenas do filme ‘Tropa de Elite’ que não existem mais no nosso governo. Primeiro: deputado negociando nomeação de coronel em batalhão. Outra: a troca do radiador de viatura. Temos hoje a maior frota terceirizada do País. PM não se forma para cuidar de carro. A terceira cena: a que leva o Capitão Nascimento à neurose. A tropa que vai à favela e troca tiro e mata alguns. Já foi época que o governador negociava o sequestro do 174. Já foi época que o governador tirava foto com granadas apreendidas. Já foi época que o governador se metia na promoção da PM. Estamos governando sem demagogia.
Petistas querem indicar vice e PCdoB começa a exigir cargo no primeiro escalão do governo. Cabral rejeita
Agradar ao PT não será tarefa fácil para Cabral. Desde a eleição de Luiz Sérgio para a presidência regional, no dia 6, o partido passou a sinalizar com a intenção de indicar o seu vice — cargo ocupado atualmente por Luiz Fernando Pezão. “É mais fácil o sargento Garcia prender o Zorro”, ironizou o governador há duas semanas, descartando a possibilidade.
Nos próximos meses, a cobiça por cargos e a articulação pelas alianças vão agitar os bastidores de partidos que compõem a base do governo. Atualmente, das 19 secretarias estaduais, apenas seis contemplam cinco siglas — PT, PP, PSB, PMN e PSC —, que votam junto com o PMDB na Assembleia Legislativa. A administração de Eduardo Paes (PMDB) na prefeitura conta com mais partidos: ele entregou nove pastas (de 22) para oito partidos. No primeiro escalão do município, além dos que apoiam Cabral, estão PTB, PDT e PCdoB.
Os comunistas, por exemplo, estão em busca de mais espaço. Até agora, agraciado com uma diretoria na Agetransp e cargos na Fundação Escola de Serviço Público (Fesp), o PCdoB está de olho na Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer. Atualmente, a pasta é ocupada por Márcia Lins, indicação de Paes, que foi secretário. “Já temos conhecimento na área, o ministro do Esporte (Orlando Silva) é do nosso partido”, diz o deputado estadual Fernando Gusmão, que garante: caso Lindberg se candidate, vai apoiá-lo. Cabral afirma que não fará a mudança.
Já o PDT está dividido entre um grupo que quer apoiar a reeleição de Cabral, outro que deseja a candidatura de Lindberg Farias e os que defendem a candidatura própria. O PTB ainda não definiu que postura tomará em 2010. Dos partidos com representantes no primeiro escalão de Cabral, o único que ainda balança sobre os rumos para a disputa no ano que vem é o PSC, que tem Ronald Azaro na Secretaria de Trabalho. A possibilidade de apoiar Anthony Garotinho ainda não foi totalmente descartada.
Ano eleitoral com investimentos e obras no interior
O último ano de mandato de Cabral promete a inauguração de várias obras longe da capital — em algumas áreas, o governador tem, segundo pesquisas recentes, índices de votação semelhantes ou até inferiores ao ex-governador Anthony Garotinho. Para o ano que vem, os orçamentos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios (Padem) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) serão ampliados sensivelmente.
Em 2010, o Padem — criado por Garotinho — terá o nome trocado por Cabral. “É um nome horrível. Vai ser o maior da história, mas não com esse nome. Só vereador e prefeito sabem o que é”, afirmou o governador.
O Padem terá crescimento de 275% nos recursos na comparação dos dois primeiros anos de governo de Cabral com 2009 e 2010 (de R$ 80 milhões para R$ 300 milhões). Na semana passada, quando a Assembleia Legislativa aprovou aumento do orçamento para 2010 (de R$ 46,3 bilhões para R$ R$ 47,4 bilhões), boa parte dos novos recursos — R$ 700 milhões — foi reservada para o DER. A Cedae também aumentará os investimentos em municípios distantes da capital.
“A Cedae tem hoje 200 frentes de obras em andamento no estado. São investimentos da ordem de R$ 3,4 bilhões, que incluem recursos do nosso governo, do presidente Lula e das prefeituras também”, disse Cabral.
Na última pesquisa do IBPS, diversos cenários projetaram a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia, do deputado federal Fernando Gabeira e de Lindberg. Nelas, Cabral aparece com mais de 35% dos votos, acima de Garotinho, com cerca de 20%. Mas, em algumas medições, o ex-governador vence Cabral na Região Metropolitana.