Um em cada cinco policiais afirma já ter sido vítima de algum tipo de tortura dentro das próprias instituições, aponta pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça. Uma parcela ainda maior dos agentes em todo o País — 72,2% — afirma que há mais rigor com questões internas, como falhas disciplinares leves, do que com fatores que afetam, diretamente, o serviço prestado à população.
Pressão por mudanças: policiais ouvidos em pesquisa reclamam de abusos de hierarquia
A tortura considerada na pesquisa envolve agressões físicas e humilhações. Para a cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CeSec) da Universidade Cândido Mendes e responsável pelo estudo, bombeiros e militares são os que mais enfrentam o poder da hierarquia excessiva. “Para os entrevistados, a hierarquia provoca desrespeito e injustiças profissionais”, analisa.
A vontade de mudanças nas polícias e o grau de insatisfação, bem como a revelação de 960 mulheres (16%) que afirmaram já terem sofrido algum tipo de assédio, surpreenderam a pesquisadora. “Consideramos este índice de assédio muito alto”, avalia ela.
A pesquisa, feita entre abril e maio, entrevistou 64.130 profissionais da área de segurança de todo País, das polícias Civil, Militar, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Municipal e agentes penitenciários. As opiniões apontaram ainda que 70% dos policiais defendem mudanças nas instituições. Uma delas diz respeito à unificação das policiais civis e militares. Pelo estudo, 42,1% dos praças entrevistados preferem que a nova polícia seja civil. “Só no Brasil há esse modelo esquizofrênico de ter duas polícias. Essa pesquisa é o primeiro passo para um grande debate. Uma virada de página”, conclui Sílvia Ramos.
Para a maioria dos entrevistados, o mau desempenho está relacionado aos baixos salários e à falta de efetivo. Em terceiro lugar, ficou a falta de formação adequada ao policial, apontada pelos entrevistados. “Eles são críticos. Muito mais do que imaginávamos. Outro dado relevante é o de que 25% estão em busca de formação superior”, ressalta Sílvia Ramos.
O estudo entrevistou os participantes com a aplicação de questionários virtuais. Os pesquisadores, ligados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram contratados pelo Ministério da Justiça, que não interferiu no trabalho. Quem quiser ter todos os dados da pesquisa, basta acessar o site do Ministério da Justiça: www.mj.gov.br.
Hoje à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça, Tarso Genro, abrem a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, em Brasília. Pelo menos três mil pessoas, entre elas 90 representantes do Rio, participam do evento. O grupo vai analisar o Caderno de Propostas que trata de assuntos como a prevenção social da violência e valorização dos profissionais de segurança.
Projeto prevê câmeras em todas as viaturas
Toda atividade policial poderá passar a ser monitorada por câmeras, como antecipou terça-feira a coluna ‘Informe do DIA’. A Assembleia Legislativa do Rio aprovou projeto que determina instalação dos equipamentos nas novas viaturas que vierem a ser adquiridas pelo estado. Na atual frota, a câmeras seriam implantadas gradativamente.
Os equipamentos serão integrados a sistema central e as imagens e áudios gerados serão armazenados por dois anos. Para virar lei, a medida terá que ser sancionada pelo governador Sérgio Cabral.
“É um projeto importante para a população e para os policiais. O uso de câmeras está se difundido e as principais polícias do mundo já têm esse equipamento em suas viaturas”, defendeu o autor do projeto, o deputado Gilberto Palmares (PT).
Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Marcelo Freixo (PSOL) concorda com a iniciativa. “As polícias que mais avançaram no mundo foram as que mais investiram em capacitação, treinamento adequado, remuneração e controle”. disse. Flávio Bolsonaro (PP) concorda. “Isso vai proteger o policial de denúncias infundadas”, afirmou.
USO DAS IMAGENS
PRIORIDADES
Para o deputado estadual Flávio Bolsonaro, o monitoramento, apesar de benéfico, não é prioridade. “É importante. Mas, antes, o estado tem que aumentar os salários dos policiais”, adverte.
EPISÓDIOS POLÊMICOS
A gravação das atividades policiais, na PM, evitaria episódios em que a imagem de toda a corporação fica comprometida, como no caso do desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro. Os PMs afirmam que a jovem desapareceu em um acidente de trânsito, na Barra da Tijuca. Mas a perícia levou o Ministério Público a denunciar os quatro policiais militares envolvidos por homicídio, fraude processual e ocultação de cadáver.
BLITZES
As imagens evitariam casos de extorsões em blitzes, principalmente à noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário